O cibercobarde!

O jornalista Miguel de Sousa Tavares emitiu mais uma opinião de bradar aos céus. MST ataca os blogues por serem um “paraíso do discurso impune“. Porquê? Porque se viu alvo de mentiras sobre a sua pessoa. Não foi capaz de admitir uma das duas hipóteses possíveis: ou tem inveja ou não gosta da liberdade de expressão de forma impune. Logo, cobarde.
Porque pode ter inveja?

Porque na liberdade de expressão não há obrigação de relatar a verdade. Uma pessoa pode inclusive mentir a respeito de outra (e por feio que seja mentir, defendo o direito até dos neo-nazis portugueses terem exprimirem as suas opiniões no seu horrível — pelos conteúdos — site, que pelos vistos felizmente deixou de existir).

Na liberdade de imprensa um jornalista tem obrigações. Deve ter provas do que diz, deve relatar a realidade com veracidade, e pode ser fortemente punido se abusar da liberdade que tem em proveito próprio ou para prejudicar pessoas.

Então que faz MST? MST decide usufruir do seu direito de liberdade de imprensa para escrever um artigo de opinião a apelar para um controlo da liberdade de expressão.

Porque pode não gostar?
Seria possível que MST ignora que expressão e imprensa são liberdades diferentes? Não acredito, uma pessoa culta como ele é… Uma diz respeito a cada cidadão, o que este diz, escreve, pinta, canta, etc. A outra diz respeito a um dever que um conjunto de profissionais tem em noticiar a verdade.

Se MST realmente sentiu danos pessoais pelas alegadas mentiras, MST deveria ter feito queixa contra desconhecidos na Polícia Judiciária. MST poderia ainda abrir o seu próprio blog e usufruir do direito de liberdade de expressão, que como cidadão tem, para dizer “alto e a bom som”: é mentira. O que esses senhores dizem é mentira.

E não necessitaria de mais. Nem explicações nem seja o que for. Apenas de declamar os seus “enimigos” como mentirosos. Poderia também, como aproveitou na sua crónica, para exemplificar como pelo facto de se basear em factos históricos, naturalmente que certos nomes e eventos coincidiriam com outras obras que por acaso se baseassem nos mesmos factos históricos. Até o autor do “Código DaVinci” foi acusado de tal coisa, e ilibado de forma extremamente humorística pelo juíz do caso, que introduziu um “código” na sentença.

Mas MST confunde o seu profissionalismo e escreve uma crónica relativa a uma experiência completamente pessoal (por mais desagradável que realmente aparenta ter sido, e nisso concordo que também ficaria chateado) usando-a como desculpa para apelar ao controlo da liberdade de expressão.

Ao associar temas como sexualidade, pedofilia, terrorismo, falsificação,
calúnia, cobardia e inveja a blogues, MST degrine todos os blogues que existem pelo mundo fora, e insulta vorazmente outros cidadãos responsáveis. Mas mais que denegrir, com termos tão fortes do ponto de vista da criminalidade, MST está efectivamente a puxar por vários papões da nossa sociedade por forma a apelar ao controlo da liberdade de expressão.

Para MST um blog tráz anonimato, e para MST a expressão anónima não tem direito a existir (e ele diz isso explicitamente na sua crónica).

Isto sim é cobardia. É cobardia apelar às autoridades que controlem a liberdade de expressão.

6 Replies to “O cibercobarde!”

  1. De uma maneira geral concordo com as tuas opinioes, mas quero deixar uma nota. Dizes que:

    Não foi capaz de admitir uma das duas hipóteses possíveis: ou tem inveja ou não gosta da liberdade de expressão de forma impune. Logo, cobarde.

    Este raciocinio parece-me estar errado. Talvez por teres omitido muitos “passos intermedios” te tenhas apressado na conclusao. Porque^ cobarde? Outra coisa que nao entendi muito bem foi o uso da palavra inveja. Porque^ inveja?

    Abracos,
    JFF

  2. Quanto à cobardia, tem a ver com o título da sua crónica “Cybercobardia”, e eu pego e por não admitir o real fundo da questão (o direito à liberdade de expressão que ele não reconhece) o chamo de cobarde.

    Quanto à inveja… como jornalista tem um conjunto de deveres que o restringem muito no que diz profissionalmente, enquanto que “como pessoa” poderia dizer muito mais mas no seu caso poderia facilmente estar sujeito a confusões perigosas, logo tem inveja do que podem usufruir os seus direitos com mais liberdade.

  3. Continuo a achar que cobarde não é o adjectivo correcto. De qualquer forma, se ele for para tribunal (porque acho que foi ou vai), que achas que vai acontecer?

  4. Como não há verdadeira liberdade de expressão (Artigo 37º ponto 3, “As infracções cometidas no exercício destes direitos…“: se há infracções algumas expressões não são livres, logo não há a 100%), existe sempre a possibilidade de lhes declarada uma sentença.

    Nos EUA, Larry Flint levou para um dos tribunais onde estava a ser julgado uma T-Shirt que dizia FUCK THIS COURT.

    Um pequeno desafio a quem acredita que há liberdade de expressão em Portugal, executar algumas das seguintes tarefas:
    a) destruir em público vários artigos de simbologia nacional oficial (bandeira, outros ícones, etc…)
    b) levar uma t-shirt semelhante para um tribunal
    c) ir para o Parlamento com dísticos relacionados com algum tema que esteja na ordem do dia e recusar-se a sair quando ordenado

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